Evocamos, hoje, (14/04/1972), o 50º aniversário da Associação Portuguesa de Deficientes. Constituída em plena ditadura, sob influência da guerra colonial, por pessoas com deficiência profundamente amarguradas pela marginalização deste grupo, conscientes dos constrangimentos impostos, indignadas com a geral pobreza deste extracto, iniciaram um caminho de reflexão frutífero, culminado na criação da APD.
Surgiu um projecto inovador/singular: a APD congregaria/defenderia todos os direitos de todas as pessoas com deficiência, descuidando causa, origem, território.
Prelúdio de Abril, a APD mudou o padrão, definiu a igualdade, a dignidade, a cidadania como paradigma do seu projecto.
Enquanto não houve Abril, em clima de opressão, resistiu, ponderando a inflexibilidade do poder.
Eclodindo a Gloriosa Revolução de Abril, em clima liberto, partiu para o duro combate por todos os direitos de todas as pessoas com deficiência. 50 anos volvidos, não deixou esse rumo. Regionalizou a intervenção – 10 anos depois surgiu a delegação distrital de Évora – outras delegações foram aparecendo, outra inovação da APD. Recusou o famigerado estatuto IPSS, porque recusou ser prestadora de serviços. Inscreveu o diálogo, a negociação, a reivindicação, como matrizes da sua permanente intervenção.
Aderiu ao movimento internacional cuja influência/conhecimento consolidaram o seu projecto, princípios, estratégia, fortaleza, transparência, probidade.
Participou em múltiplas reuniões internacionais, foi actor interveniente na elaboração de textos modelares: Declaração de Harare; Declaração de Madrid; Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Colaborou na preparação de todas as leis relativas às pessoas com deficiência, embora os governos hajam menosprezado todas as propostas apresentadas, de tal modo que as leis não foram regulamentadas/aplicadas.
O poder local protagonizou, «naquele tempo» aliança forte; o tremendo retrocesso social, no alvorecer do milénio, contaminou, irreversivelmente, tal prática; longe, muito longe, agora, o poder local afastou-se da temática ««inclusão»», o que lamentamos, porque as consequências desse desapego repercutiram, muito negativamente, no percurso incluente que advogamos/Proclamamos.
Esta efeméride é excelente oportunidade para reabilitar, em benefício da inclusão, nova aliança forte.
A novidade, a resistência, a convicção, a tenacidade, a austeridade crítica fazem pagar «elevado preço»! Não transigiremos, não trocaremos princípios por benesses, não abdicamos da construção da sociedade inclusiva. Trabalhámos infatigavelmente; fizemos «muito pouco», porque a luta pela inclusão é gigantesca, mas a permanente carência de recursos, intolerâncias, perseguições inexplicáveis, frustraram o cabal sucesso da nossa luta.
Nesta data, que desejaríamos de «festa», afligem-nos aterradoras preocupações, face à horrenda crise, tão perigosa, quanto imprevisível. Proclamamos o rumo, urgente, à paz, requisito fundamental da inclusão.
É justo recordar «heróis» desta batalha, sempre pacífica, que, maugrado imensas dificuldades, dedicaram, devotamente, a sua existência à nobilíssima causa: – edificar a sociedade inclusiva…
A APD declara: à semelhança dos pretéritos 50 anos: seremos parceiros confiáveis; casa forte da inclusão; inabaláveis prosélitos do diálogo/participação; intrépidos actores do novo rumo que há-de culminar na construção da sociedade inclusiva – espaço de todas as igualdades, expressão humanista doutra sociedade.
Exortamos as pessoas com deficiência a participar no colóquio comemorativo, Borba, 21 Maio, 14.h.30m.
Paz, Dignidade, Inclusão
Nada sobre Nós, sem Nós!…
DDE/APD – O porta voz